segunda-feira, junho 05, 2006

PASSAGEM DE NÍVEL DA ROCHA


Lisboa tem sido uma presença fundamental na minha vida. Gosto muito da cidade em todos os seus aspectos, com ênfase para a vertente marítima, e fluvial. Porque para mim, o Tejo é a alma de Lisboa.

Muitas doces memórias mais remotas têm esta Lisboa como cenário. Uma delas, cheia de cores - as dos navios de então, prende-se com a passagem de nível da 24 de Julho à Rocha do Conde de Óbidos.

A partir de 1963, com a ida para o colégio, a passagem por lá todas as tardes era um ponto alto no itinerário da velha Magirus azul e branca do Externato Marista de Lisboa, conduzida com mestria pelo Sr. Baptista. Na época o traçado da avenida 24 de Julho não diferia muito do actual, mas o ritmo e a orgânica era outra. Polícias sinaleiros nos diversos cruzamentos e três passagens de nível, em Santos, na Rocha e em Alcântara. Para além de duas outras mais à frente, em Belém e Pedrouços. Todas entretanto suprimidas, excepto a da Rocha, que permanece com serventia apenas para peões. Como se pode observar nas fotografias, obtidas dia 19 de Maio.

Os edifícios são os mesmos, os combóios também. Em dias de paquetes atracados à Estação Marítima da Rocha, para além dos utentes habituais regista-se a presença animada de muitos turístas. E dos carteiristas que os tentam roubar.

Dia 19 o navio atracado era o SAGA ROSE, um paquete de 24.528 toneladas de arqueação bruta e 188,9 metros de comprimento, sensivelmente as mesmas dimensões e aspecto dos nossos saudosos SANTA MARIA e VERA CRUZ, que até 1973 atracavam sempre na Rocha. O SAGA ROSE foi construído em França em 1965 para a Norwegian America Line com o nome SAGAFJORD, e veio muitas vezes a Lisboa em cruzeiro com o nome original. Pertence à Saga Holidays, de Inglaterra, desde 1997 e faz cruzeiros destinados especialmente a passageiros com mais de 50 anos.

O meu regresso a casa todas as tardes tinha como primeiro atractivo a descida da avenida D. Carlos I, o Cais de Santos ao fundo sempre com uma chaminé amarela da Insulana à vista. Um dos paquetes mais antigos, o LIMA ou o CARVALHO ARAÚJO, mas também o CEDROS ou o FUNCHAL, mais raramente. O Cais de Santos incluia então o terminal privativo da Empresa Insulana, que assegurava as ligações marítimas com a Madeira e os Açores. Para além da Insulana, havia no extremo montante de Santos, o Cais do Gás, onde atracava o CORVO da Mutualista Açoreana, e para jusante, o entreposto de Santos, dedicado a cargueiros que faziam habitualmente a carreira do Norte da Europa, muitos dos quais alemães ou holandeses.

A Santos seguia-se o Estaleiro Naval da AGPL, com as carreiras de construção activas e os cascos das fragatas ALMIRANTE PEREIRA DA SILVA e ALMIRANTE GAGO COUTINHO a crescer de imponência com o decorrer dos dias. E finalmente passavamos frente ao Cais da Rocha e Doca de Alcântara. Então bem mais interessantes em termos de vida marítima que actualmente. Dessas passagens recordo com muita nitidez o EMPRESS OF BRITAIN, da Canadian Pacific, com a sua chaminé amarela magnífica e o MAURETANIA, da Cunard, então pintado de verde, como o CARÓNIA. E havia sempre os habituais, como os grandes paquetes da Colonial, os navios da companhia Itália, os espanhóis da Ybarra, os paquetes da Mala Real, Blue Star Line, P&O e British India. Tantos navios. Muitas saudades.

Fotografias e texto de Luís Miguel Correia - 2006

4 comentários:

Anónimo disse...

Nem eu sabia que gostava tanto do Tejo e de Lisboa, até conhecer outras cidades da Europa. Qual Sena ou Tamisa! Não se comparam ao Tejo!

Anónimo disse...

Hoje estive no jradim 9 de Abril. Lindo!

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Zeni,

Tens toda a razão. Senti isso especialmenta da primeira vez que estive em Nova Iorque. O Hudson não chega aos calcanhares do Tejo, nem de longe... Para dar valor ao que temos é fundamental abrir horizontes e conhecer outros lugares, etc...

Miguel

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Zéni,

Lindo também, mas com outra dimensão é o Sado, mesmo aqui ao lado... A luz ainda é melhor que em Lisboa... Parece o Mediterrâneo...

LMC