sábado, julho 29, 2006

D. DINIS de Fernando Pessoa

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
o plantador de naus a haver,
e ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Fernando Pessoa in MENSAGEM

Foto de Luís Miguel Correia - 2006

ESTACIONAMENTO EXEMPLAR

Vista da Praça do Munícipio, em Lisboa, com o edíficio sede da Câmara Munícipal, e uma viatura camarária estacionada indevidamente em cima do passeio, mesmo junto à entrada do parque subterrâneo local.
Um mau exemplo, desnecessário e inestético. Terá recebido uma multazinha da nossa tão esforçada PSP?

Texto e foto de Luís Miguel Correia - 2006

CONTRASTES DISCRETOS

No decurso das minhas deambulações fotográficas pela Baixa Pombalina de Lisboa, entre a beleza óbvia do conjunto, a benção da luz atlântico-mediterrãnea e o fascínio do lugar, surgem curiosidades discretas, como as que aqui traduzimos nestas três imagens: o grafito a filosofar sobre o Tempo, numa esquina da Rua dos Sapateiros, a placa da loja de chás e cafés Casa Pereira da Conceição, na Rua Augusta, e um cartaz de Bento XVI, de expressão teutónica, com a carga emocional de todo o seu conservadorismo e autoridade, numa montra da Rua do Crucifixo.



Texto e fotos de Luís Miguel Correia- 2006

segunda-feira, julho 24, 2006

GRANDES VELEIROS EM LISBOA



De 19 a 23 de Julho último, Lisboa recebeu uma frota de grandes veleiros que atracaram à Rocha do Conde d'Óbidos e à Doca de Alcântara e atrairam as atenções de cerca de 500.000 visitantes.
Os navios despediram-se do Tejo ontem com um desfile naval muito concorrido, e seguiram para Cádis.
Para quem não teve oportunidade de ver os navios, aqui ficam alguns registos fotográficos.
Texto e fotografias de Luís Miguel Correia - 2006

quinta-feira, julho 20, 2006

EMVOLVENTE DA PRAIA DE ALGÉS



O alindamento relativo da Praia de Algés e respectivo passeio marginal prolonga-se até à entrada da Docapesca, sendo frequentado por inúmeros transeuntes em socializações várias e contemplações ribeirinhas.
Limitando a actual Praia fica a Torre que a APL construiu recentemente destinada ao controlo do tráfego portuário (VTS).
Em frente estende-se prazenteira a Trafaria com os seus magníficos silos de cerais e complexo graneleiro portuário. E mesmo ao lado, uma obra Filipina, o Faról do Búgio.
O molhe que vai até à entrada da Docapesca podia estar mais limpo e ordenado, mas já foi pior, não se pode ter tudo, e o local apresenta uma morfologia de transição, se forem avante os projectos da APL para o local, nomeadamente a transformação da Doca de Algés (Docapesca) num ancoradoro para grandes embarcações de recreio e o desenvolvimento de projectos imobiliários de luxo.
Teremos assim dado a volta ao círculo, com a requalificação da Algés ribeirinha para ricos e os pobrezinhos definitivamente despojados da sua Malibú de sonho. Um mundo cruel, sem dúvida. E entretanto lá se acabou a lota de Lisboa e o respectivo peixe fresco, em nome de uma regata que acabou por se concretizar em Valência...
Texto e fotos de Luís Miguel Correia - 2006

PRAIA DE ALGÉS



No tempo das Caravelas e respectivas Descobertas, a margem norte do Tejo multiplicava-se em Praias, da Boavista ao Restelo - último abrigo seguro para os navios antes de se fazerem à Barra.
Os aterros dos séculos XIX e XX, nomeadamente a regularização da margem efectuada pelo Porto de Lisboa, de que a actual frente da Junqueira é um exemplo, normalizaram os recortes naturais do Rio. A Torre de São Vicente de Belém há muito deixou de ser uma ilha, e das antigas praias resta uma amostra mínima de areal em Pedrouços, a juzante do Forte do Bom Sucesso, e a praia de Algés, também muito reduzida e domesticada, com as obras portuárias efectuadas na zona a partir dos anos sessenta, caso da Docapesca e mais recentemente a nova doca da Torre VTS.
No século XIX Algés chegou a ser praia da moda, perdendo depois a sua clientela mais sofisticada em prol de destinos mais longínquos, os Estoris e Cascais, conforme as preferências da Família Real. Sem pretensões a ter bandeira azul ou de qualquer outra cor, a Preaia de Algés ganhou recentemente alguma vida para além do seu contexto social de recurso fluvio-balnear para os pobrezinhos da zona. O arranjo da envolvente da praia e um cuidado mínimo com a sua limpeza tornaram o local mais atractivo. Um restaurante Mexicano, uma promenade com palmeiras e gente a passear, usufruindo o rio. Quando lá estivemos recentemente, banhistas apenas um...

Texto e fotografias de L. M. Correia - 2006

domingo, julho 16, 2006

NAMORAR À BEIRA RIO

A minha cidade é linda, chama-se Lisboa e tem encantos sem fim. Muitos derivam do Tejo, esse traçado de água esverdeada que refresca a cidade em termos de paisagem e contrastes. E os Lisboetas sabem disso. É vê-los ao fim de tarde a namorar à beira rio. Como Lisboa, os seus nativos também têm encantos vários. Juntos numa simbiose de que resulta uma cidade magnifica. Um dos melhores climas da Europa, uma luz incomparável...
Texto e fotografias de L. M. Correia - 2006

segunda-feira, julho 10, 2006

UMA JANELA PARA A CIDADE

Durante muitos anos andei de eléctrico por Lisboa. Foi há muitos anos, os eléctricos eram muitos mais do que são actualmente. Carreiras mais distantes, viagens especiais com bilhetes para operários. Como o 16, do Poço do Bispo para Belém, pelas Janelas Verdes, Pampulha, Alcântara, com duas carruagens... E o 28, da Estrela para o Chiado ou a Rua da Conceição, que normalmente não me aventurava além daí.
Muitas vezes iam cheios, passageiros em pé, cadeiras de palinha só para os mais velhos ou os bafejados pela sorte de uma cadeira vaga. Sentado, o percurso era uma verdadeira viagem panorâmica pela cidade. Como acontece hoje com os turístas e os carteiristas que ao que parece muitas vezes os aliviam de valores efémeros. Turistas e ladrões às voltas pela Lisboa dos eléctricos. Por mim fico-me pelas saudades.

Foto e texto de Luís Miguel Correia - 2006

sexta-feira, julho 07, 2006

TERREIRO DO PAÇO



Principal praça da Baixa Pombalina de Lisboa, a Praça do Comércio continua a ser para a maioria da população o Terreiro do Paço.

Aí existiu, do lado poente o Paço da Ribeira, mandado edificar por D. Manuel I e tudo se perdeu com o terramoto de 1 de Novembro de 1755.

Para financiar a reconstrução da cidade, o Marquês de Pombal lançou logo a 2 de Janeiro de 1756 uma taxa de 4 por cento sobre as importações, que se traduziu em somas avultadíssimas suportadas principalmente pelos comerciantes de Lisboa, razão pela qual à praça se deu o nome oficial de Praça do Comércio. É uma bela praça fronteira com o Tejo que apesar de desprezado continua a ser a alma de Lisboa. Depois de muitos anos como rosto do Poder e em simultâneo estacionamento de viaturas, o local não parece ter ainda encontrado a utilização nobre que a localização e configuração deixam adivinhar.

Faltam polos de natureza cultural e qualquer coisa mais que façam do Terreiro do Paço o coração da Lisboa ribeirinha e não um corredor de gente apressada vinda da margem sul e uma plataforma meia vazia para turístas. Ladeada por86 arcos, a Praça do Comércio mede177 por 192,5 metros. No centro da praça, a estátua de D. José foi inaugurada a 6 de Junho de 1775 no dia em que Sua Majestade completou 60 anos.

segunda-feira, julho 03, 2006

EXCLUÍDOS DA BAIXA POMBALINA

Mesmo junto à base da estátua de D. José, na Praça do Comércio, um sem abrigo lê o jornal e com a sua presença protesta. Protesta contra a desigualdade, as diferentes sortes, a vida madrasta, sabe-se lá que mais.

Não temos todos que ser iguais, mas deve haver mínimos aceitáveis em termos de cidadania e coesão social. Imagens como esta deviam ser coisa do passado.

Imagens e texto de Luís Miguel Correia - 2006